quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DESEMPREGO EM LUANDA

Todos os dias milhares de pessoas acordam cedo para procurar uma vaga de trabalho em restaurantes, obras, empresas, localizados na Baixa de Luanda. Cada manhã traz consigo a esperança de poder ser nesse dia que vão encontrar o emprego que procuram. 
Na rua da Missão, tem sido visível de longe o aglomerado de pessoas à porta de um novo hotel que, antes mesmo de ser anunciado o recrutamento de pessoal, atrai aqueles que, na expectativa de arranjar trabalho, ali aguardam uma oportunidade. 
“Todos os dias é assim. O hotel ainda não foi inaugurado, mas a falta de emprego faz com que essas pessoas venham de longe, desesperadamente, à procura de uma vaga de trabalho”, explica à reportagem do Jornal de Angola um dos pedreiros que trabalha nos acabamentos do hotel. 
Sem saberem se vão ser recebidos, esperam pacientemente. Alguns acabam por se tornar amigos e passam o tempo a desabafar as suas malambas. Outros, de tanto esperar, encostam-se aos carros ali estacionados à procura de uma sombra. 
Alice Freitas veste uma roupa formal, sapatos rasos, tem um bebé às costas e o currículo enrolado na mão. A ela juntam-se outras pessoas, na sua maioria jovens que aparentam idades compreendidas entre os 20 e os 45 anos. O objectivo de todos é o mesmo: arranjar uma vaga antes do hotel ser inaugurado. Sem mesmo alguém lhes ter dito que são necessários empregados, todos os dias se reúnem ali, à espera que uma porta se abra para eles. 
“As dificuldades aumentam em cada dia que passa”, lamenta António Francisco. “Preciso custear os meus estudos e sem um salário não sei como fazer. Encontrar emprego, hoje em dia, é como procurar uma agulha no palheiro, mas encontra-se. Tenho fé que aqui veremos uma luz verde ao fundo do túnel”, acrescenta, esperançoso.
Enquanto aguardam, entretêm-se com anedotas, histórias e algumas brincadeiras para espantar a ansiedade. João Bernardo, por sinal um dos mais aplicados animadores do grupo, conta que, para passar o tempo, “às vezes brincamos um tomba a outra, zombamos com o currículo uns dos outros, entramos em risadas até nos fartarmos. E tudo isso ajuda à distracção, porque se não for assim, torna-se aborrecido ficar à espera”. 

Mais abaixo, na Mutamba, junto à antiga Fazenda, hoje Ministério das Finanças, é visível o número de pessoas que ali aproveitam para descansar. Algumas andam de porta em porta, na tentativa de conseguirem um emprego. 
Como o João Bernardo, que depois de permanecer algum tempo à porta do hotel, desce a rua da Missão em direcção a um banco onde possa sentar-se e repousar os pés. Com 32 anos, procura uma vaga de motorista. Veio do município do Kilamba Kiaxi e está a espalhar o seu currículo por várias empresas, na expectativa de um dia ser chamado. “Estou desempregado há mais de dois anos. Tenho o ensino médio feito em Ciências Sociais e sou pai de quatro filhos. Não posso me desesperançar. Tenho de continuar a procurar um emprego, porque senão não terei como sustentar os meus filhos. A minha mulher é vendedora e não pode assumir todas as despesas da casa, porque o negócio nem sempre rende”.

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