terça-feira, 23 de setembro de 2008

O RETORNO DOS BENS DEIXADOS

Li algures na nossa imprensa que o governo de Angola estaria disposto a devolver os bens deixados pelos cidadãos alemães, bens deixados na mesma altura em que centenas de milhares de portugueses também tiveram de abandonar tudo e fugir para Portugal.
A pergunta que se coloca é esta? Se temos assim tão boas relações com o governo de Angola, o que fez o nosso primeiro ministro neste sentido? Será que na sua recente viagem aquele país africano, fez sentir ao governo de Angola as legítimas aspirações daqueles que tudo deixaram e que porventura agora, num clima de paz, estariam dispostos a regressar? Não li nada sobre isso, mas um pouco conhecedor da forma de agir do nosso poder político, estou em crer que nada foi feito, nem tão pouco foi proferida qualquer palavra sobre este assunto.
Como todos sabemos e temos de o admitir, havia grandes riquezas em Angola, muitas delas tiradas à força aos povos africanos, enquanto outras foram constituidas à força da exploração não só dos povos indigenas, mas tambem dos europeus que eram escravizados da mesma forma. A esses, e isto é a minha opinião, o governo de Angola nada deve, mas aqueles que a custo do seu suor conseguiram montar um negócio, construir uma casa ou lavrar uma fazenda, a esses, seria justo e de direito que as autoridades de Luanda pusessem ao dispor os seu antigos haveres, pois poderia ter a certeza que isso só iria contribuir para o desenvolvimento e enriquecimento de Angola.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

É POSSIVEL RELEMBRAR O ESQUECIDO

Quem viveu tres dezenas de anos ou mais completamente afastado de um lugar e suas gentes, é facil o seu "disco rígido" começar a apagar as vivencias passadas nessa altura, para dar lugar a outras que compoem o dia a dia do seu presente. Aconteceu isso comigo!
Ao fim de trinta e tal anos, foi uma surpresa para mim, conseguir relembrar pessoas, episódios da minha vida que ha muito julgava esquecidos. Através do Chat do forum CUBATA ANGOLA, pude novamente "conversar" com amigos da minha mocidade e a medida que as conversas se desenrolavam, pude com alguma dificuldade relembrar esses tempos, essas pessoas que o tempo aos poucos apagou. Para os que são naturais de Angola, os que viveram lá bastantes anos e foram obrigados a abandonar tudo e especialmente para aqueles que viviam na zona da Cela e Gabela, podem encontrar naquele Chat um espaço onde muita gente procura recordar e partilhar toda uma dor que todos nós passamos, mas quer queiramos quer não faz parte da nossa vida e da nossa identidade. Para poderem aceder aquele espaço não é necessario registo, mas se quiserem tambem escrever, neste caso façam um registo no forum, uma coisa bastante simples.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

NOTÍCIAS FRESCAS E ANIMADORAS

Contrariamente ao que se houve dizer, tive notícias muito recentes de Angola e sobretudo do Waco Kungo onde passei muitos anos da minha juventude. Esta pessoa amiga que vive em Luanda mas que tem casa no Waco para onde se desloca com muita frequencia, diz que em Angola a insegurança é muito reduzida ou mesmo nula no que toca ao interior do país. Ela normalmente viaja sozinha e nunca teve qualquer especie de problema, pois o povo farto de guerra, voltou a ser o mesmo povo pacífico e amistoso que nós conheciamos antes de termos abandonado as nossas terras e as nossas cidades.
Também se assiste ao desenvolvimento acelerado do país, bem assim como a reconstrução das infraestruturas básicas que tinham sido derrubadas durante a guerra. Vê-se um pouco por todo o lado o surgimento de bons hoteis, muitos deles típicos que procuram captar o turismo, turismo que não demorará muito tempo a descobrir como destino privilegiado aquele paraiso de Africa.
Eu que pensava jamais visitar aquele canto, tenho hoje um conceito diferente e quem sabe um dia...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

ANGOLA E A SAUDADE

Sonho um dia voltar
Aquele lado do mar
Donde tive que fugir
Quero matar a saudade
Daquela pequena cidade
Donde tive que partir.
Ficou tudo ao abandono
Tantas casas sem dono
Que acabaram por ruir
Foram tantas as balas
Cravadas naquelas salas
E nos quartos de dormir.
É uma dor de coração
Ver como uma nação
Acaba por se destruir
Onde havia alcatrão
Agora há apenas chão
E crateras a surgir.
Por isso eu quero voltar
Quem sabe possa ajudar
Ajudar a reconstruir.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

OS RETORNADOS

Para quem é maltratado na sua terra, dificilmente esse alguem tem saudades da mesma e muito menos alberga o sonho de um dia poder voltar, ainda que seja de passagem. Tirando um ou outro caso, a maioria daqueles que deixaram Angola e todos eles em condições bem deploráveis, continuam ao fim de mais de tres décadas a fazer planos ou simplesmente sonhar, cruzarem o Atlantico de novo e matarem as muitas saudades que albergam consigo durante todos estes anos.
Será o feitiço de Angola? Penso que não é apenas isso. Ao fim destes anos todos, muitos daqueles que foram obrigados a retornar, simplesmente já nos deixaram, a nova geração que saiu com vinte, trinta ou quarenta anos, compreende perfeitamente os abusos que foram cometidos nessa altura e lá, tal como cá, não havia a minima ideia do que era a política e do mal que ela poderia causar a um povo que ansiava por uma mudança, embora não compreendesse muito bem como ela deveria ser feita.
Já falei com alguns daqueles que visitaram Angola, lá, as suas gentes, assim como os de cá, aqueles que foram obrigados a vir embora, continuam a relembrar aqueles bons tempos, sem mágoa, ressentimento e muito menos o desejo de uma suposta vingança. Só mesmo quem nasceu, cresceu ou viveu em Angola, pode entender os laços criados com o povo africano, onde a cor da pele não era impeditivo para se fazerem boas e duradouras amizades. Se houve abusos na altura, claro que os houve de ambos os lados, todos eles foram ultrapassados, ficando apenas a saudade que uniu um só povo agora dividido em duas nações.