sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ACUSAÇÃO E JULGAMENTO DO GENERAL MIALA - 15

À guisa de conclusão

"Não sou Van-Dúnem nem Vieira Dias. Muito menos Dias dos Santos, Mingas ou Burity. Mesmo assim vivo por graça no Bairro Azul e reconheço ter atentado contra aqueles que se apertaram para me darem um espaço no inner circle do Poder", deveria ser mais ou menos assim uma "confissão" completa de Fernando Garcia Miala, se estivesse a ser julgado pelos "crimes" que citámos acima. Mas não será. Ele está a ser julgado por não se ter apresentado a uma cerimónia inédita de desgraduação e ter-se apropriado de cerca de 30 mil dólares em... aparelhos de escuta telefónica. Não vá o Diabo tecê-las outra vez e um outro alguém ser apanhado com a boca no pote de mel.
Arroladas as provas relativas a estes "crimes", faz de certa forma sentido a grande acusação que lhe foi feita, se bem que deve ser vista de uma outra forma: Miala não quis, e se calhar nunca lhe passou pela cabeça, atentar contra a pessoa ou a instituição da Presidência da República. Sem respaldo político, económico ou social, isso era simplesmente impensável. Mas atentou, isso sim, contra o poder do Chefe, eventualmente usando indevidamente a confiança que este depositava nele, para objectivos que não soube justificar. Como resultado, o Chefe ficou desiludido com ele e exonerou-o - até aqui nada de novo - e os inimigos acumulados ao longo dos anos de serviço aproveitam-se para atirar-se a ele que nem o burro da famosa fábula tentando escoicear o leão moribundo - e isso é que não está bem.
Emoções à parte, já começa a ficar cada vez mais claro que foi um erro crasso levar aquele homem a julgamento da forma como está ser feito. Por motivos históricos, os tribunais são pódios privilegiados para que aqueles que não têm voz possam dizer das suas verdades. Já se esqueceram de Fidel Castro e Nelson Mandela? Miala fala com um elevado sentido de Estado, mas vão saindo verdades - como essa do PR ver famílias mais nobres e menos nobres e dizer isso mesmo - que talvez estivessem melhor, protegidas por enquanto com o selo do segredo de Estado.
Porque não fazem sentido as acusações - para quê acusar um general de insubordinação e roubo de patacos quando sabemos que a haver crimes houve-os bem mais graves? - A imagem que passa é o de se pretender humilhar o homem. A mensagem que fica é que qualquer outro corredor de fora - entenda-se alguém que não faça parte das elites - que se atreva a faltar com o respeito às tais "famílias nobres" que alguns já dizem ser cem, apanha feio. Se for caso disso, inventam-se até cerimónias nunca antes vistas para pô-los no devido lugar. Convençam outro que se o general não fosse um Miala qualquer mas um das tais, teria que sujeitar-se a uma cerimónia de desgraduação que nem na guerra alguma vez se fez...
Em última análise, está-se a pôr em risco os altos interesses do Estado. Um homem com o manancial de informações que o general Miala possui deve ser protegido e preservado. Protegido para que estas informações não saiam do âmbito próprio, e preservado para que elas possam ainda estar ao serviço do Estado se necessário for. Deve-se levar ainda em conta que, no cumprimento das suas missões, terá feito certamente muitos inimigos e não é justo que agora seja deixado sozinho entregue à bicharada.
Resumindo: um homem que ocupou os cargos do general Miala deve ser reserva estratégica do Estado. A sua vida protegida, e serem-lhe garantidas as honras correspondentes a um antigo governante e a um oficial general dos serviços secretos. Independentemente dos erros que tenha cometido. Será talvez por isso que o PR se recusou a assinar o documento que passaria o general Miala à reforma compulsiva, o que faz perfeito sentido.
Um homem como ele não se põe em tribunal por razões menores - e num país em que ladrões de milhões passeiam-se impávidos e serenos - a não ser que se queira provocar implosões que a ninguém interessa. Deve-se pôr um ponto final a esta charada que só suja a imagem do país. Até mesmo porque está visto que o processo está viciado, absolva-se o homem e trate-se o resto em foro próprio que não a hasta pública.
Agora que lá está, estamos todos a pagar para ver o que é que isso vai dar...

Continua....

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