sexta-feira, 31 de outubro de 2008

RECORDAÇÕES

Sinto-me amargo, acido como vinagre
Foi-se a esperança, tudo o que sonhei
Passou-se o tempo não houve um milagre
Morreu o futuro, tudo o que um dia amei

Tudo acabara na flor da juventude
Sonhos de amor e de felicidade
Bastou para isso perder a saúde
Morri para o mundo, para a sociedade


Quem não aparece acaba esquecido
O mundo sem ti continua em frente
Ainda que tenhas sido muito querido
És abandonado por toda essa gente


Pela madrugada sou acordado
Alguém suavemente me aperta a mão
É todas as noites o mesmo fado
Chegara a hora de mais uma injecção


Volto a dormir e torno a sonhar
Corro pelos campos, voltei a viver
Sinto-me leve e consigo voar
Mesmo sem pernas consigo correr

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O QUE EU ACHO

Esta não poderá se mais do que a minha simples opinião, mas de tudo o que tenho observado, de tudo o que tenho lido, cheguei a esta conclusão, que me perdoem os que acharem que estou errado, mas como a liberdade de expressão é aceite e comumente partilhada neste pequeno país em que nos encontramos, nada me impede de assim pensar e também registá-la neste espaço.
Enquanto nós angolanos de nascimento e outros que viveram por longos anos em Angola continuamos a chorar e a partilhar a dor dos muitos que tombaram nas guerras e dos milhões que hoje vivem em extrema dificuldade, nota-se uma certa soberba não do povo em si que continua a chorar pelos "colonizadores" que deixaram Angola, mas da classe dos chamados novos ricos, daqueles que aproveitaram os anos de luta para enriquecerem e hoje substituíram os chamados "colonos", para tratarem o povo bem pior do que aqueles a quem chamavam exploradores. Parece que tudo aquilo que diga respeito a Portugal é a partida encarado com alguma desconfiança, com algum desdém, embora da parte da maioria dos portugueses continue o sentimento fraterno, por uma nação nova que respeitamos, mas o mesmo povo com quem partilhamos longos anos de história e convivencia.
Nunca jamais eu vou renegar à nação que me acolheu, embora eu fosse angolano de nascimento. Se concordo com todas as suas políticas? Claro que não, mas não posso aceitar que uns poucos dos mais de catorze milhões do meu país de nascimento, continuem se não a odiar, porque acredito que não seja isso, mas a desconsiderarem um país e um povo amigo que tudo faz para que os erros passados (e houve-os de ambos os lados), não toldem as relações dos povos na sua maioria, porque infelizmente como acontece sempre nestes casos, é sempre uma pequena minoria que acaba por ofuscar o pensamento e o sentimento de todo um povo ou uma nação.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

TRISTE ESPELHO

Acaba-se a esperança, deseja-se a morte

Sente-se a angustia chora-se baixinho

Sentimentos de raiva, maldiz-se a sorte

Ora-se a Deus pedindo um cantinho

Odeia-se o mundo, toda a sua gente

Sente-se inveja de quem pode andar

Passa-se o dia a torturar a mente

Apenas há passado para recordar

Recorda-se aquilo que ficou por fazer

Também outras coisas que não se fizeram

Tantas palavras que ficaram por dizer

Lembram-se amigos que desapareceram

Porquê só a mente não quis dormir

Quando todo corpo já não lhe obedece

Para quê ter um corpo só a fingir

Quando até a mente dele se esquece

Olhos no tecto, dentes cerrados

Dor infinita, pensamento ruim

Olha-se o corpo, músculos mirrados

Soluços de dor, tristeza sem fim

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O RETORNAR

Para os naturais de Angola que tiveram de abandonar o país aquando dos confrontos armados entre os movimentos de libertação, abre-se agora uma nova oportunidade, oportunidade essa que lhes dá o direito de pela primeira vez serem chamados retornados, o seu retorno ao país de origem, à terra onde nasceram: Angola!
É verdade que também a eles foi aplicado embora erroneamente, a palavra retornado, quando na verdade o termo correcto seria refugiados, pois eles não retornaram a Portugal, país que a maioria nunca havia visitado.
Com a paz em Angola é cada vez mais necessário homens e mulheres qualificadas para ajudarem a desenvolver um país em franca ascenção e recuperação, mas dos muitos diálogos que tenho tido com antigos companheiros, a expressão é a mesma: com a nossa idade, o que vamos nós fazer? Assim é de facto, para os que abandonaram Angola na sua adolescencia, estão hoje já entradotes na idade e esta aventura, embora muito desejada, veio tarde demais. Julgo saber que existem maiores facilidades para os filhos de Angola, para nós, que crescemos e envelhecemos bem longe da terra que amavamos, mas estou como dizem os meus amigos: recomeçar toda uma vida, é demasiado tarde para nós!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

É BOM PERDOAR

Mesmo em amigos do peito
Sempre encontramos defeito
Ou motivo de nos queixar
Teremos fraca existencia
Se tivermos tal tendencia
De estar sempre apontar
Quem é que nunca errou
Ou a outros prejudicou
Muitas vezes sem notar
Assim é melhor esquecer
Quando nos fazem sofrer
Sim, é melhor perdoar
Se ficarmos ressentidos
Quando somos feridos
Acabamos por odiar
Sentimento tão imundo
Que tem levado o mundo
Uns aos outros a matar
Descanse o seu coração
Estendendo seu perdão
Se alguém a prejudicar

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

UMA CRITICA E UM ELOGIO

Ontem tive de me deslocar às urgencias do Hospital Amato Lusitano em Castelo Branco, devido a uns ganglios que me apareceram na cabeça e depois no pescoço. Decerto compreendo que não ia am perigo de vida, pelo que não estranhei quando na "triagem de Manchester" me deram a fita verde, simbolo de não muito urgente. Até aqui tudo bem. Comecei contudo a mostrar-me menos satisfeito com a pessoa que me fez a triagem ao constactar que na sala de espera havia um senhor idoso, talvez na casa dos 75/80 anos, diabético, também com uma fita verde, que aguardava a consulta já ha mais de cinco horas. Continuava a chegar mais gente a quem era dada a fita amarela, sendo atendidos rapidamente e também rapidamente se iam embora.
Facto estranho! A maioria das pessoas a quem foi dada a fita verde, foram precisamente estas que ficaram a fazer exames complementares de diagnóstico, tendo o referido senhor idoso que foi atendido ao fim de quase sete horas, ficado internado! Acredito no metodo da triagem, mas também acredito e neste caso como cidadão e doente exijo, que sejam colocados nestes lugares pessoas competentes, para que estes casos não se repitam um pouco por todo o lado.
Nota 5 para o médico que me atendeu! Pela atenção, pelo cuidado do diagnóstico, pelo pedido que fez a um seu colega para me observar e tanbém pela simpatia, isto numa unidade de urgencia de um hospital. Bem haja Dr. Jorge Monteiro, médicos como o senhor dignificam a sua classe, classe que todos precisamos algum dia.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

QUE ILUSÃO

Vivemos neste mundo apressado onde tudo o que fazemos parece já ter sido encomendado para ontem! Neste corre corre do dia a dia, muitas vezes ou quase sempre não nos damos contas da triste realidade da vida: de um momento para o outro tudo se vai! As canseiras, as ilusões, os projectos, os bens pelos quais lutamos afincadamente toda uma vida, tudo desaparece, porque na verdade somos pó e mais tarde ou mais cedo é nesse pó que todos nos tornamos.
Se todos levasse-mos em conta esta realidade, estou em crer que o mundo em que vivemos seria bastante melhor, bastava acabar o egoísmo para que não assistisse-mos ao espectaculo degradante de crianças com o ventre inchado e completamente mirradas com a fome; a milhares de crianças que desaparecem todos os anos e são mantidas em cativeiro para satisfazerem os desejos bizarros e animalescos de alguns seres vivos que de humanos não têm nada; ao fim do ódio que tem levado a guerras horríveis, onde alguns membros da própria família se perseguem e matam, apenas porque não professam a mesma ideologia; acabariam da mesma forma os ressentimentos nutridos contra alguém, só porque esse alguém fez algo que não aprovamos ou tem uma forma de ser diferente da nossa. Sim, acredito que se todos levasse-mos em conta o que realmente somos, o mundo seria bastante melhor.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Os herois

Dizem fazer a guerra
Por amor a sua terra
E o povo libertar
Como são lindas promessas
Muitos vão nessas conversas
Pegando em armas p´ra lutar
Abandonam seus oficios
Passam mil sacrifícios
Acabando por não voltar
Morreu de arma na mão
Apodrecendo pelo chão
Sem ninguem para o enterrar
Ninguem sabe onde tombou
A terra onde ficou
E acabou o seu sonhar
Talvez seja melhor assim
Pois quando a guerra chega ao fim
Os que acabam por regressar
Vêm que nada melhorou
Antes tudo piorou
De que valeu guerrear
É grande a desilusão
Com o olhar pelo chão
Recorda o que teve de matar.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ANGOLA EM FRANCA RECUPERAÇÃO

É grato e motivo de satisfação saber que a terra que há muito deixamos, não só entrou num clima de paz, mas também de franca recuperação. Como a maioria dos leitores deste blogue sabe, eu também sou o administrador do forum CUBATA ANGOLA e somos privilegiados por termos no forum pessoas inscritas que nos dão notícias credíveis e na hora de todas as transformações que aquele país está a sofrer.
As estradas estão sendo alcatroadas a um ritmo alucinante. As pontes estão sendo reconstruidas; um pouco por todo o lado brotam bons hoteis, assim como restaurantes onde se podem saborear os pratos típicos angolanos. Estão a ser reconstruidos os antigos edifícios da administração colonial e aproveitados para as diversas actividades do actual governo. O projecto Aldeia Nova no Waco Kungo está a ser um sucesso! Foram dadas casas e meios para um principio de vida daquele povo; hoje já se comercializa carne, leite, ovos e as mais variadas verduras.
Nos poucos anos depois da guerra já se fez bastante, espera-se contudo da parte do governo que olhe mais de perto para aqueles menos favorecidos, aqueles que hoje têm um nível de vida ainda inferior ao da época colonial. O actual poder tem a maioria qualificada no parlamento o que lhe permite aprovar todos os seus planos, pelo que se espera e exige a distribuição da riqueza de um país rico, por aqueles que nada têm.