quarta-feira, 3 de setembro de 2008

OS RETORNADOS

Para quem é maltratado na sua terra, dificilmente esse alguem tem saudades da mesma e muito menos alberga o sonho de um dia poder voltar, ainda que seja de passagem. Tirando um ou outro caso, a maioria daqueles que deixaram Angola e todos eles em condições bem deploráveis, continuam ao fim de mais de tres décadas a fazer planos ou simplesmente sonhar, cruzarem o Atlantico de novo e matarem as muitas saudades que albergam consigo durante todos estes anos.
Será o feitiço de Angola? Penso que não é apenas isso. Ao fim destes anos todos, muitos daqueles que foram obrigados a retornar, simplesmente já nos deixaram, a nova geração que saiu com vinte, trinta ou quarenta anos, compreende perfeitamente os abusos que foram cometidos nessa altura e lá, tal como cá, não havia a minima ideia do que era a política e do mal que ela poderia causar a um povo que ansiava por uma mudança, embora não compreendesse muito bem como ela deveria ser feita.
Já falei com alguns daqueles que visitaram Angola, lá, as suas gentes, assim como os de cá, aqueles que foram obrigados a vir embora, continuam a relembrar aqueles bons tempos, sem mágoa, ressentimento e muito menos o desejo de uma suposta vingança. Só mesmo quem nasceu, cresceu ou viveu em Angola, pode entender os laços criados com o povo africano, onde a cor da pele não era impeditivo para se fazerem boas e duradouras amizades. Se houve abusos na altura, claro que os houve de ambos os lados, todos eles foram ultrapassados, ficando apenas a saudade que uniu um só povo agora dividido em duas nações.

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