segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MUTILAÇÃO GENITAL SOFRIDA POR MILHÕES DE MULHERES


As estimativas do UNICEF  indicam que existem no mundo entre 70 a 140 milhões de mulheres às quais foi removido o clitóris, sendo que só em África três milhões de meninas correm o risco de sofrer mutilação genital todos os anos, uma prática, porém, que começa a ser posta em causa.
Os dados são do relatório “A dinâmica da mudança social: rumo ao abandono da mutilação genital feminina em cinco países africanos”, publicado pela Unicef na quarta-feira.
O relatório apresenta o levantamento de experiências realizadas no Egipto, Etiópia, Quénia, Senegal e Sudão para acabar com uma prática que além de atentar contra os direitos humanos básicos das meninas e mulheres, ainda deixa sequelas psicológicas e físicas irreparáveis, como hemorragias, infecções urinárias, complicações durante o parto e alta mortalidade de recém-nascidos.
A incidência de remoção do clitóris entre mulheres dos 15 aos 49 anos é, no Egipto, de 91 por cento, de 89 por cento no Sudão, de 74 por cento na Etiópia, de 28 por cento no Senegal, e de 27 por cento no Quénia.
Relativamente ao número de mulheres dessas idades que consideram que a prática deve continuar, tendo em conta dados de há alguns anos e o levantamento mais recente, 82 por cento das egípcias eram a favor da prática em 1995, número que caiu para 63 por cento em 2008.
No caso do Sudão, o índice era de 79 por cento em 1989 e caiu para 51 por cento em 2006, na Etiópia, 60 por cento em 2000 e 31 por cento em 2005, no Quénia, 20 por cento em 1998 e nove por cento em 2009; no Senegal, 18 por cento em 2005, sem que haja números comparativos mais recentes.
O relatório reconhece que “apesar dos progressos realizados nas comunidades estudadas, as taxas de prevalência são elevadas”.
O documento destaca, no entanto, que “os méritos da prática são questionados e que muitos indivíduos prefeririam, se as circunstâncias permitissem, não ter de submeter as suas filhas, esposas, irmãs e primas à mutilação genital”.
“A opção de uma família praticar ou abandonar a ablação do clitóris é influenciada por importantes sanções sociais, positivas ou negativas”, assinala Gordon Alexander, director do Centro de Pesquisa Innocenti, responsável pelo relatório.
Os diferentes trabalhos de campo realizados nos cinco países não apresentam uma resposta única em relação aos avanços na erradicação da prática, dada a importância do contexto sócio-cultural de cada país, e inclusive de cada comunidade num mesmo Estado. 
No entanto, foram detectados elementos comuns que contribuíram para a erradicação da prática, ou pelo menos para a incipiente rejeição. “Estes elementos não são suficientes por si só para motivar a mudança, mas juntos podem levar a processos de transformação”, diz o relatório. Alguns deles são: a decisão não depende apenas dos progenitores, que têm muito em conta a opinião dos líderes locais, políticos e religiosos; as comunidades devem sentir que a mudança é do seu próprio interesse e estar convencidas disso sem a interferência de estrangeiros. Além disso, deve ter-se em conta a cultura local sem a rejeitar, além de unir a educação em direitos humanos aos valores e aspirações locais.

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