terça-feira, 13 de dezembro de 2011

KUANDO-KUBANGO APOSTA NO FUTURO

O nome por que ficou conhecido o Kuando-Kubango depois do conflito armado, “Terras do fim do Mundo”, deixou de fazer sentido. Nos últimos três anos, o esforço de desenvolvimento da província transformou radicalmente a imagem que hoje possui. Quem a visitou em 2008 tem agora dificuldade em reconhecer os sítios por onde então passou. O progresso está a passar por aqui.
No início de 2008, a província, que foi das mais assoladas pela guerra, tinha apenas um hotel, ocupado por uma equipa de empreiteiros da Odebrecht, uma vez que pensões ou residenciais eram apenas uma miragem. Para o grupo de jornalistas que, em Fevereiro desse ano, visitou o Kuando-Kubango para avaliar no terreno o projecto de Reconstrução Nacional a que o Executivo estava a dar início, nenhuma classificação se adequava tão bem como a dada à província: estávamos, de facto, “nas terras do fim do mundo”.
Durante os 15 dias de trabalho que ali permanecemos, cada um tentou solucionar o seu alojamento conforme pôde. A boa vontade da população permitiu a cada um de nós arranjar um tecto, a maioria de chapa. A escassez de lojas era evidente. Compras só no mercado ou no “Nosso Super”. Se queríamos fazer um mata-bicho razoável, tínhamos de acordar cedo e procurar uma barraca. 
As estradas principais, secundárias e terciárias encontravam-se degradadas. Mesmo dentro de Menongue, as ruas principais estavam todas esburacadas. As estradas que ligam a cidade às restantes províncias encontravam-se em tal estado, que só mesmo em condições de grande necessidade as pessoas se metiam ao caminho. Ir ao Cuito- Cuanavale num todo-o-terreno, por onde nem estrada havia, era um desafio apenas aceite no desespero da sobrevivência.
Volvidos três anos, o cenário é bem diferente. Logo no aeroporto é difícil acreditar naquilo que estamos a ver, ao recordarmos a região desprotegida e cujo futuro quase parecia impossível de imaginar.
As evidências saltam à vista: hotéis, pensões, residenciais, estradas asfaltadas e outras em conclusão. Agora, as lojas para compra de alimentos, vestuário, material didáctico ou de construção, já não se contam pelos dedos. O cliente que quiser comparar preços tem de ter paciência para fazer uma ronda por todas e definir a melhor.
O Kuando-Kubango é um verdadeiro estaleiro de obras. É visível a reabilitação de estradas, a construção de escolas e centros de saúde. Estão a ser criados projectos de cooperativas agrícolas. Em curso está ainda a construção do Palácio da Justiça, de uma unidade de saúde com mais capacidade e a ampliação do Hospital Geral de Menongue. Por inaugurar estão a estação do caminho-de-ferro, centros médicos, estabelecimento de enchimento de gás e escolas.

O comboio está a chegar

A reportagem do Jornal de Angola constatou que também a nível da habitação há avanços significativos. A vice-governadora para a Área Económica, Verónica Mutango, disse que estão a ser construídas 200 casas em todos os municípios da província, no âmbito do programa do Executivo de construção de um milhão de habitações. “Estamos a trabalhar para que a nossa população não tenha problemas de habitabilidade e também para os quadros que vêm trabalhar para a província. Muitos dos quadros do país não aceitam vir para a nossa província por falta de condições de alojamento, mas não queremos ficar para trás no que diz respeito ao progresso, por isso estamos a fazer tudo no sentido de criar condições para as nossas populações”, explicou.
Neste momento, a novidade que está a entusiasmar a população é a chegada do comboio. Com ele, refere Verónica Mutango, chegaram também a melhoria do comércio e preços mais baratos. Estão ainda a ser concluídos os quatro eixos de ligação da província com o Huambo, Bié, Huíla, fronteira da Namíbia e Zâmbia. “A via Menongue/Luanda está em perfeitas condições. Agora estamos a trabalhar para concluirmos a via Menongue/Cuito Cuanavale”, frisou.

Superar dificuldades

Embora com algumas dificuldades, o sector da educação está a cumprir o seu papel, afirma a vice-governadora. Há falta de docentes, “mas acreditamos que com o funcionamento de instituições do ensino superior, vamos ter quadros e evitar o problema dos estudantes que abandonam a província para terminar os seus estudos e depois não voltam mais”.
Ainda existem muitas crianças fora do ensino escolar, mas foi lançado o programa operativo e a prioridade é a construção de 110 escolas. “No próximo ano, já vamos ter escolas com seis e sete salas”, adiantou.
Relativamente à saúde também existem muitas dificuldades. A vice-governadora garantiu que este sector não está de fora das prioridades, antes pelo contrário. Está prevista a construção de centros a nível das comunidades e a cobertura dos serviços básicos de saúde. “No programa de combate à pobreza existe um subprograma relativo aos cuidados primários de saúde. Ainda não temos a situação totalmente controlada, mas estamos a trabalhar para isso”, esclareceu.Verónica Mutango realçou que a província, através dos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros, está preparada para acudir às populações em qualquer situação que venha a surgir. As instituições hospitalares também estão em alerta no que concerne às doenças que surgem de forma súbita nesta época chuvosa.

Mini-hídricas em perspectiva

O abastecimento de energia eléctrica e de água é um dos mais complicados problemas que o Kuando-Kubango tem de enfrentar. Em Menongue, os cortes de luz são constantes e à noite o som dos geradores toma conta da cidade.
Este problema está superado em parte, disse a vice-governadora, “uma vez que o sector de energia prevê a construção de mini-hídricas, duas das quais projectadas para as zonas do Pele e Missonbo. Tudo isso vai minimizar a situação, até que se tomem outras medidas e que nos dêem a cem por cento energia e água”.
A nível agrícola, está a ser dado apoio às populações para que sejam criadas associações de camponeses e cooperativas. “O que se constata na província é a existência de uma agricultura familiar e de subsistência. Mas nós estamos a trabalhar no sentido de fazer com que haja outros projectos colectivos e que o comércio rural seja amplo.”

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