quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ACUSAÇÃO E JULGAMENTO DO GENERAL MIALA - 12

Continuação...

Segundo Crime
(A dimensão politica)

Politicamente, o general Miala começava a ter demasiado poder. Mesmo que delegado pelo Presidente da República, era tanto que ministros e assessores se punham em sentido perante alguém que, ao seu ver, não tinha legitimidade para tanto. Nem advinda das elites urbanas de Luanda, como é o caso dos Vieira Dias, Dias dos Santos, Fontes Pereira e Van-Dúnens, por exemplo. Nem da participação na luta de libertação como um Roberto de Almeida, Kundy Payhama, Paulo Jorge, Nvunda e outros. Muito menos tinha passado pelo crivo do Partido como um Pitra Neto ou Gigi Fontes Pereira, ou pelas batalhas com os sul-africanos como um N´dalu, Ndozi, João de Matos ou ainda Higino Carneiro, Nzumbi, para citar apenas estes. Miala era, tão-somente, um corredor de fora que, beneficiando do secretismo próprio do seu ofício, se tinha instalado no epicentro do poder. E graças ainda a esse secretismo, tal poder apenas podia ser controlado pelo próprio Presidente que tem, naturalmente, muitas outras coisas com que se ocupar. Assim, nunca ninguém sabia quando o general agia segundo ordens do Chefe ou por moto próprio.
Apoiando-se em técnicas de espionagem israelitas, Miala fintou o próprio Savimbi e a sua Brinde e, embalado pelo êxito, apanhou Toninho Van-Dúnem com a boca na botija e entregou-o de bandeja ao Chefe. Erro fatal: Toninho é primo do Chefe e do seu maior "inimigo de estimação", Hélder Vieira Dias "Kopelipa". Num clã poderoso como este, ninguém toca num deles daquela maneira e ficam as coisas por isso mesmo...
A denúncia das engenharias financeiras de Toninho e a sua queda, levando por arrasto Carlos Feijó - outro "nobre", e esse ainda por cima um "barra" - ameaçou quebrar o pacto de silêncio, cúmplice e tácito, criado a partir da famosa frase "Os camaradas estão organizados?" no longínquo ano de 1991. Pacto sobre o qual, hoje por hoje, repousa a estabilidade do próprio Estado. Que um estratega político com a experiência de JES sabe que não pode ser quebrado sob pena de o país sofrer uma implosão de consequências catastróficas. Assim, ao mesmo tempo que tomava as medidas pertinentes para castigar o menino imprudente apanhado com a mão no pote de marmelada (no caso o Toninho), JES tomava também nota mental que o denunciador - expert nas lides de segurança do Estado - não calculara que há coisas que é melhor ninguém querer saber. Hoje um, amanhã outro. Se as manigâncias dos membros do establishment passam a estar sob o crivo dos órgãos de inteligência, as coisas ficam muito complicadas. E vem a pergunta crucial: de quem terá partido a iniciativa de espiar Toninho? Do Chefe? E se foi esse o caso, seria para destapar carecas ou apenas para "xinês" ver? Sobre quem mais terão sido feitos exercícios semelhantes? Estas e outras perguntas ainda levarão tempo até serem respondidas. Mas que foi um mau cálculo político da parte de Miala, lá isso foi, embora tenha valido o patriotismo e a coragem, que o cidadão comum aplaude…

Continua......

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