segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

GRANDE SUSTO

Conheci pessoalmente o narrador desta aventura, era motorista numas das roças do Mário Cunha, bom conversador, homem hosp1taleiro, casado com uma africana de quem tinha penso eu, tres filhas e um filho.
Como era hábito em Angola, todos os empregadas daquelas imensas roças, supriam-se a si mesmo de carne atraves da caça e sempre que um matava qualquer coisa, a divisão era feita por todos os vizinhos. Numa bela madrugada este nosso amigo levantou-se e foi fazer uma espera ao javali, mas como estes demoravam a aparecer, deixou-se vencer pelo sono.
Não dormiu muito tempo, pois acordou ainda de noite, mas quando esticou a mão para apanhar a arma que estava ao seu lado, os seus dedos tocaram em pelo, um pelo macio que o fez arrepiar. Tentou de mansinho escapar-se para o lado contrario, mas também ali estava outro animal. Sentiu-se gelar, pois tinham-lhe dito que avistaram por ali uma onça e a conclusão lógica é aue se encontrava no meio de duas, só não o tinham atacado ainda por o julgarem morto.
Mal respirava e assim ficou até começar a amanhecer e só nessa altura descobriu que os dois animais eram os seus cães, dois bichos enormes que não sei a que raça pertenciam. Normalmente os caes nao o acompanhavam quando saía para caçar, mas desta vez ali estavam eles de guarda ao seu dono, va-se lá saber porquê.
Não ganhou para o susto, mas sempre que contava este episódio, não deixava de afagar a cabeça do bicho que estivesse mais perto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

RECORDAÇÕES

Ao invés de regressar
Quero apenas recordar
Os tempos que lá vivi
Tempos da minha mocidade
Naquela pequena cidade
Com uns calções de caqui
Para a garganta ressequida
Também havia bebida
O vinho de abacaxi
Recordo aquelas caçadas
Que com redes esticadas
Se apanhava um javali
E o pequeno beija-flor
Vestido com explendor
Aqui chama-se colibri
E toda aquela gente
Que guardo na mente
E que nunca mais vi
Seria melhor esquecer
Pois acabo por sofrer
Quando me lembro de ti.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

DUAS OPINIÕES

Enquanto alguns anseiam por regressar ou simplesmente visitar as terras de onde tiveram que fugir, outros há que preferem recordar esses lugares assim como eram nos seus tempos, posso compreender os primeiros, mas creio que entendo melhor os segundos e é com estes que por certo me identifico.
Creio que uma aldeia, vila ou cidade é composta não só pelas suas casas, ruas, prédios e jardins, mas sobretudo pelos seus habitantes e quanto mais pequena a localidade é, tanto mais se faz notar a componente humana. Assim, estou de acordo com aqueles que preferem guardar na sua memória os tempos idos, aquelas pequenas cidades onde os seus habitantes faziam toda a diferença.
Pessoalmente guardo gratas recordações daqueles tempos, não pensem contudo aqueles que nunca lá estiveram, que era tudo um mar de rosas, não, também havia dificuldades, descriminação, diferenças sociais e também extrema pobreza e isso é preciso dizê-lo, mais do que uma vez ouvi dizer que os africanos se não comessem o seu pirão já não se sentiam saciados. A verdade talvez seja outra, não tinham era possibilidades de se alimentar ou saciar com os pratos que compunham a mesa da classe a seguir.
Guardo para mim visões de Angola de outrora e creio que é com estas que quero continuar. Em consciencia nada me pesa de algo que tenha feito para prejudicar os seus naturais, aliás eu tambem me considero um natural, mas pelo que leio, creio que a apenas sofreria um choque e não mataria as saudades de uma Angola de outros tempos e composta de outras gentes.
Saudosismo? Chamem-lhe o que quiserem, mas da minha cidade não recordo apenas as suas casas, os seus passeios, os seus jardins, as suas ruas, mas recordo essencialmente as suas gentes.